formatura
 

Para Jerônimo Gabriel Moreira,
  meu avô e pioneiro do sertão.
 

Cortinas que desvendam aquarelas incríveis.
A mata raleia com grosso tronco
no estrondo do tempo, o tombo.
Ossos de galhos partidos,
a decepa, a destoca, o rombo.
Repercutem nas vísceras e nas raízes
gemidos sovados, longos.
 

Os braços, a ferramenta, o encargo.
O desejo e o suor definem a geografia,
tão enfurecidos na prenhez do sol,
alegres de morarem como o rouxinol
livre em campo largo.

 

Caieira crema e põe brasa em carvão.
Madeira estala no borralho.
Crença e nuvem e trovão
entornam choros no cascalho.
Chove uma jura de arroz e feijão.
 

Esterco. Água. Broto. Esperança.
Chão regado. E aragem fresca, mansa,
põe o beijo no dedo da aliança
e perfuma riso novo de criança.
 

— Meu avô atulhou os filhos e a comida
e proveu os fundamentos da vida.



Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 29/03/2013
Código do texto: T4213230
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