Redenção

A flor e o mandacaru

O sumo, a fome, a sede,

Assisto ao rio seco, da minha rede,

Camaleão, cobra, guará, tatu,

Vidas que há pouco coloriam

A caatinga... em lágrimas sofrega,

A chuva, redenção, vem e rega,

O arado e as sementes criam

O banquete, o sorriso, as vidas:

Memórias de um sertanejo!

A cacimba lá embaixo, só pedras,

A palma extinta na carroça,

As reses à espera de um lampejo

Ao riacho encher, magras,

Sob os rachões da roça,

Clamamos Senhora Nossa:

Intercede, advogada do Sertão!

Descalço, a capinar, enxada e foice

A trabalhar, orando à aurora:

“Serão três meses d’água,

Ai Senhor se sesse,

Meu Pai não vejo a hora,

Vem lavar a minha alma...”

Era dia de São José,

O céu logo fechou,

Sem um dente, rachado o pé,

Descalço, chapéu voou,

Obrigado, Nosso Senhor,

Sempre em Sua abundância,

O milho na chapada avança,

O galo hoje forte canta,

É riqueza no Sertão!

Monto no meu alazão

E passeio com esperança,

Maria, faz um café forte,

Com pamonha, canjica, ricota,

Hoje a raiz vê um novo norte,

O homem desmata, o Pai ressuscita!

Princesa Isabel, 25 de março de 2013

(Niedson Medeiros)

Dr Niedson Medeiros
Enviado por Dr Niedson Medeiros em 25/03/2013
Código do texto: T4207693
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