Infância na roça e quintal sem muro

Falando em quintal

Entre ramalhete e ramalhoça

Recordo-me com saudades

Da minha infância na roça

Energia elétrica estava distante

Mas... eita tempinho bom que foi!

Era puro, simples e muito feliz da conta

Vivido nos tempos do fogão à lenha e da lamparina

Bonito demais eram as plantações sob a chuva fina

Minha rede branca, suave repousar

Inocente, ganância eu nem conhecia

Não precisava de tudo

Porque de tudo não precisava

Brincava de ciranda

No areal debaixo do Pé de Jabotá

Em noites enluaradas

No recanto da Serra da Ibiapaba

Sem riscos, com a beleza apraz do lugar

As cantigas noturnas

Nas calçadas da Vila

Nos degraus da igrejinha

As prosas eram lindas

Preocupação não tinha

Nos dias calorosos, aquecimentos luminosos

Na ocupação campestre, colhia frutas e hortaliças

Na lavoura do meu pai e nos canteiros que mamãe plantava

O frio neblinoso, feito companhia, nos rondava

O banho no riacho

Desnudo feito índio

Aprisionava passarinho

Com a pureza de menino

Na frente da casa, uma histórica planta “Oliveira”

Da janela eu via a Estrada e o final dela

Tantas flores como o “Cravo”, “Bom dia”, “Boa noite” e “Benedita”

Outra planta de flor amarela e um pé de Papoula vermelha

Tendo como rainha, uma lindíssima Roseira

Como não tinha brinquedos

Os meus, eu mesmo produzia

Artes em objetos naturais

Que inspiravam até poesia

E à sombra dos mangueiras

Dos cajueiros e laranjais

Entre muitos arvoredos

Eu inventava tocar bateria

Em instrumentos que eu mesmo fazia

Se divertia com lata e barbante ou com "perna de pau”

Gaiola de talo de buriti e pinhão de goiabeira

Com fragmentos da natureza

Meus carrinhos eram de madeira

Brincava de tudo que pudesse ser

Até com boneca de pano das irmãs

Pois era tímido e quase não tinha amigo

Então, muitos irmãos pequenos

Juntavam-se comigo

O encanto maior era ouvir o canto dos pássaros

Na mata vizinha à minha casa

Em cima dos galhos do buritizal

E a cantilena gorjeada, mais bela, era do cupido

No terreiro dos fundos

Ou no quintal da frente

Livre sinfonia dos bichos em harmonia

Pois para nossa felicidade

Lá no campo, muro não havia

George Lemos
Enviado por George Lemos em 25/03/2013
Reeditado em 25/03/2013
Código do texto: T4207157
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