Moradia
Casa tosca, porta aberta e ladrilho;
afagos de machado e suor na soleira
da cozinha, no degrau de aroeira
— do pai da obra e, ainda, três filhos.
Água e pote, a tampa, o jarro
e a caneca: o deleite da sede.
Taboca e saibro da parede,
mofo e afável aroma de barro.
A mesa e um fundo preto de panela,
chapa de fogão, graveto, tição,
labareda, borralho, carvão...
Cruz do vento na tábua da janela.
Cabo de vassoura, cabeça de palha,
a mesma toalha e rasgo de pano.
Bule verde e arroz-doce na tigela...
Moradia, só. E, na prenhez dela,
germinando a criatura de três anos.
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Doce
Machado que corta o lenho
e vento que assobia ao longe
acorda o menino ?berreiro -
que no seio se farta aos montes.
O fogão à lenha, a lenha crepita
saltita no fogo, brincado de cores,
chamusca a tigela de barro, o cozido;
o manjar sem igual, inesquecíveis sabores.
O avental puído cerzido,
a colher de pau mexendo o doce
enquanto espera o marido
espanta a cantiga das dores.
(Aglaure Corrêa Martins - Interação)