A BOIA DO LEAL NUM DOMINGO
Já meio-dia passado
E eu de fome graúda
Que açoiteira macanuda
Pra “desembestá” total
Já sem nada no bornal
Senti um bendito cheiro
Pensei: “Hoje tem carreteiro
Lá pras bandas do Leal”
Bueno, eu vou me achegar
Mas tem que ser bem no jeito
Pra não deixar contrafeito
O mestre-cuca afamado
Dei um toque disfarçado
Nas cercanias do rancho
Uma sondagem de “sancho”
Querendo mamar deitado
O Leal me atendeu
Por educação, um convite
Pealei bem o envite
Porem, banquei o sotreta
Não fui assim de veneta
Deixei correr mais a linha
Porque quem quer a boquinha
Tem que merecer a teta
O Mario estava na porta
Com relho e com garrucha
Ordinário, “a la pucha”
Que baita recepção
E já de faca na mão
Me apareceu o Leal
Um carreteiro bagual
Não tem preço de ocasião
O Rainieri via tudo
Num varejo de patrão
Tomando um vinho dos “bão”
E eu naquela sinuca
Enfiado nessa arapuca
Dei uma de “nem tô aí”
Sou carancho do Itaqui
Meu sinuelo é uma mutuca
Já que não tinha outro jeito
Até me trataram bem
E eu que andava sem vintém
Comi, bebi num alegrão
E cismei, na refeição,
Com uma fome de jiboia:
“Pra poder granjear uma boia,
A gente sofre um quinhão”.
Leal: o poeta José Machado Leal
Mario: o poeta Mario Cezar Castro
Rainieri: amigo em comum