Cheiro
Convivem em mim
todos os cheiros da vida.
(Cyro Mattos – Estrada.)
Por ali, vivi a ilusão de aromas.
Nas bandas do monjoleiro.
No manejo da taquara.
No cedro e no araticum.
Nas plumas da arara,
no melão, no talo de mamonas.
As vacas. O brejo. O anum.
O perfume da colheita,
lá, onde o capim se deita.
Na aragem, no verde da represa.
Na taboa. Na pinguela estreita.
Na açucena, no sabão.
Fragrância de escuridão;
querosene de lamparina acesa.
O que chega de Nosso Senhor,
incensos do santuário.
Bola de borracha. Brinquedo
de pau. Bala de aniversário.
Cheiro de canela. Bolor.
Caderno. Mijo. Arvoredo.
O que molha a chuva,
a pedra da cachoeira.
A parede e o musgo do corredor.
A capa, o couro, a gota de suor.
O doce, o sumo, a parreira de uva.
O saibro, o pote da cantoneira.
O que perfuma toda maneira
com que o passado cheira.
Poema integrante do livro "Junco do Quintal" (Não Publicado)