A SENHORA DA JANELA

Quando hoje cruzei e mirei a janela,

Não tive o aceno de outras cruzadas.

Meus olhos campearam na casa antiga

Um olhar que há dias cambiou de morada!

E segui ao tranco, assim meio perdido

Haveria partido a senhora fraternal?

Que proseava sorrindo, ofertando o mate.

Nos conselhos: sapiência em tom maternal.

E tal fosse um quadro já só na moldura,

Sem ter a figura, que fora tão bela...

Nem o maior artista em inspiração pura

Faria a sua imagem reviver na tela!

E entre os mugidos da tropa pesada

Gritei abafando o meu próprio choro!

Tudo tem seu tempo, tudo está de cruzada...

Saudade é marca quente, judiando do couro!

As paredes de meia braça, já perdem o reboco,

Mas não perdem a beleza, o tempo que é outro.

Será que esta senhora que partiu da moldura,

Deixou este quadro para então entrar noutro?

O sorriso de mãe, o aceno do lenço...

Pelo campo imenso prossigo sem ver-te.

Ou melhor, eu te vejo na janela da alma,

Num sub-distrito lá de Ponche Verde!

Ramiro Amorim