Numa tarde de Domingo

Tarde de domingo

Mês de março e um calor escaldante

A carreira estava cheia

Na cancha corriam os parelheiros,

Também tinha tiro de laço,

E vaca parada pros gurizitos.

No bolicho servindo vinho

Canha e cerveja gelada,

Três moças tapadas de faceirice.

Era muita gente na cancha

E no bolicho, naquela tarde.

Na cozinha as muié fritavam pastel

À torto e a direito.

Deu uma festa grande e animada

Lucro na certa.

Eis que pelas tantas surge um vulto

Montado num baio

Um domador justado numa fazenda ali de perto

Pra domar uns potros

Apeou e entrou no bolicho

Ficou de prosa com uns conhecidos.

A morena que vinha de lá de dentro

Com duas canecas de vinho na mão

Parou

Ficou mirando encantada

Bota, bombacha, rastra

Faca atravessada na cintura

e o tala dependurado,

Lenço no pescoço e chapéu.

Que estampa!

Continuou a servir

Mas não tirava os olhos do domador

E ele percebeu.

A morena do bolicho

Havia alguma coisa naqueles olhos negros

Chegou pra perto do balcão

Pediu um martelo de canha

Foi servido com um sorriso

Ficou por ali, cuidando.

Viu quando a bolicheira saiu

Em direção à cancha

- Tem um minuto pra uma prosa?

Ela sorriu,

Ele entendeu.

Caminharam, conversaram

Ele apontou o baio,

Amarrado à sombra de uma ramada

Que corria a par da taipa

Mais de mês sem sair da estância

Só lidando com a cavalhada

Sorte que chegou a notícia das carreiras.

Sorte que ele apareceu, ela pensou.

Que nostalgia, parece até poesia.

As mãos se encontraram, os lábios também,

Numa ansiedade meio desesperada.

A tarde se findava e chegou um chasque

A lida não podia mais esperar

Deixara pela metade na pressa de ir às carreiras

O ruim dessas cousas é a despedida.

Montou no baio e prometeu voltar.

Pela estrada ia o domador e o baio

Na ramada ficou a morena cheia de sonhos.

(Alva Gonçalves – 20/09/2011)

Alva Gonçalves
Enviado por Alva Gonçalves em 08/10/2012
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