No fogo, ao fundo da casa,
num tripé, uma panela.
Quase nada dentro dela.
Um punhado de feijão,
feijão duro, já pedrento,
fumarando fedorento,
levando, ao sabor do vento,
gritos de misericórdia.
Casta rica, espúria escória!
Ouve esse grito de fome
dessa gente que inexiste,
sem documentos, sem nome,
de rosto e futuro triste,
sem presente e sem passado...
Que planta, que faz roçado,
mas vem a seca e devora!
Sem roça...semente...E agora?
O pouco que lhes restara
de semente, na panela...
Que vai ser da vida dele?
Que vai ser da vida dela?
Ele, Manoel de Jesus.
Ela, Maria das Dores.
Maria canta louvores
a Jesus, pela janela,
sem véu, sem terço, sem vela,
das esperanças viúva!
Clama, chora, implora chuva,
enquanto Jesus (Manoel)
acocorado no chão,
reza os olhos na amplidão
à procura de corisco,
prenunciando o inverno.
Depois, do chão faz papel
e, com uma lasca de xisto,
risca uma cruz, pede a Cristo,
ajoelhando-se na cruz,
que mande chuva a Jesus,
como se fosse o do céu!
JPessoa/PB
06.09.2012
oklima
Sou somente um escriba
que ouve a voz do vento
e versa versos de dor...