VIVER É MUITO PERIGOSO
De Toleima a Curvelo e Urucuia
O gerais se espalha sem tamanho
Nasce o lago à sombra do capão
Nas veredas do pasto sem rebanho.
Sertão.
Relinchos de cavalos sob a lua
As esporas e a faca reluzente
Os enleios da vida só permitem
Breve olhar, furtivo e reticente.
Riobaldo.
Lado a lado no desvéu da madrugada
Olhos verdes pousados no horizonte
O amor que fere o peito é segredo
Como águas profundas sob a ponte.
Diadorim.
Viver é um descuido prosseguido
Da morte ninguém foge, ninguém corre
Um chefe de jagunços respeitado
Na mente dos seus homens nunca morre.
Joca Ramiro.
Verdade se carece de aprender
O sertão está aqui dentro da gente
Porquê o bem e o mal estão no mundo
Desde que surgiu na terra o ser vivente.
Zé Bebelo.
Destemido, mau e arrenegado
Pra matar foi sempre pontual
Fez pacto de alma com demônio
Ilegítimo, foi símbolo do mal.
Hermógenes.
A coragem se dobra e se redobra
O medo dá lugar à valentia
Há coisas que se fazem só em guerra
E o bom senso se perde na porfia.
Batalha.
Dobravam para dentro e para fora
Sanharam, baralharam e terçaram
Desumanos urraram como feras
Faca a faca, malditos se cortaram.
Hermógenes e Diadorim.
O travo justo de tanto segredo
Aponta o corpo sobre a laje fria
Naquela quadra do entardecer
Tudo é triste, nonada, travessia.
Morte.