LAMENTO SERTANEJO

É da ribança

que vejo o carancho

de voo rasante

percorrer esse sertão

E lá do chão

não desdenho o que vejo

sei que não posso duvidar

o que a vida reserva ao sertanejo

E se na cuia

gota d'água não tem

olho pro céu

rogo por chuva que não vem

Inté eu poderia

sair a esmo e bradando

contra nosso senhor, mas não faço

porque sei que o sofrimento

é feito por homens

que no poder estão trabanhando

E minha gente

igual eu também sofrida

sai à procissão

e pede cura à ferida

que se forma na barriga do irmão

Sou dessa terra

o pó que ela gera

daqui nunca sairei

sou daqui, aqui morrerei

Então, a todos que me ouviram

não peço aplausos

nem também títulos acadêmicos

só peço que livrem meu povo desse sofrimento