RODEIO EMOTIVO

O crepúsculo desce

sobre o templo do Rio Grande,

na hora da Ave-Maria.

Andejo na virgem seara,

cruza de centauro pampiano

e de coloniais meirinhos

- o gaúcho – filho da terra,

rolando por sobre o Pampa,

alarga a geografia,

rasgando Mapas,

Cortes, Tratados,

e avança sobre o imigrante,

retrós por detrás de mim.

E assim, norte emotivo,

com sua Arte Nativa,

represa a evocação,

que sai do Sul em correntes,

competindo com pirilampos,

estrelas de olheiras roxas,

para a abóbada do Sem-fim.

Soturna entre os irmãos,

andarengos do atavismo campeiro,

gritedo das crianças

e canto dos grilos,

se vão formando comparsas,

essas estranhas raças

à roda do chimarrão.

E nesse concílio de traços,

cada um vai contando relatos,

saudando, em longos agrados,

estórias e causos de guerra,

pruridos do povo,

gemidos da terra.

Cada história que vem,

gemendo reminiscências,

é um comboio de trem

da charla continentina.

E o poncho da invernia,

soprando como um açoite,

traduz nessa agonia,

a humana tapeçaria.

– Do livro MODERNIDADE POÉTICA NO RIO GRANDE DO SUL, Porto Alegre: Caravelas/ Instituto Cultural Português, 1984, p. 36:7.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/35925