Uma tarde pela cidade!

Um dia à tarde ando pela cidade

Caminho lentamente

Passo pela matriz e me lembro com tristeza

De uma pagina de um antigo livro

De uma antiga igreja que não existe mais

Caminho mais um pouco

Eis que avisto o sino solitário

No meio da praça tudo que resta

É um sino sem igreja

E uma pequena lembrança impressa em vidro

Eis que ando pelas ruas do centro

Vejo um relógio imenso

Que sem parar conta às horas

Implacável como todo senhor do tempo

Sento na praça

Existem pombos e pessoas de idade conversando

Olho em volta, existe apenas o comércio

Mas no meio, bem no meio

Algo me remete ao passado

Uma pequena casa bege insiste em se manter de pé

Em meio ao capitalismo lá está ela

Com sua pequena fonte de água para os passarinhos

De fronte a casa faço uma viajem no tempo

Vou para a Mogi de antigamente

Vejo a Maria fumaça passando pelos trilhos

Belas e antigas igrejas tomando conta da cidade

As mulheres andando com seus vestidos longos

Os homens tiram o chapéu para cumprimentá-las

Existem fontes e coretos em todas as praças

Em volta do pequeno centro enormes fazendas

No Alto da Bela Vista vejo a cidade inteira

Não existem prédios apenas casas e crianças correndo

Consigo ver as árvores das praças

Então eu acordo

Tudo está diferente

As barracas de lanches não têm mais personalidade

São todas iguais

Nem consigo mais encontrar o lanche que gostava de comer

Não vejo mais as arvores

E as fontes de água sumiram

Vejo pessoas andando apressadas

Comendo tão rápido que mal sentem o gosto

Pessoas dormem na calçada

Voltei para o presente

Vejo uma cidade com potencial imenso

Sendo reduzida a barracas de lanches e calçadas da cor padrão

Enquanto centenas de mogianos acordam às quatro da manhã

Para pegar o trem e ir para São Paulo trabalhar

Pois aqui não tem emprego para todos

Vejo crianças perambulando pela rua sem ter o que fazer

Nossos universitários bebendo no bar em frente à faculdade

Não existem mais fontes nas praças

Quase não se vê mais arvores

As igrejas quase existem mais

Apenas algumas teimam em manter-se de pé

Prédios centenários caem

São cobertos com plásticos pretos

Tal qual os mortos encontrados pelas policias

E nossa memória morre a cada dia

Nossa cidade perde a identidade

Assim como nós perdemos a nossa

Sabrina Ferreira
Enviado por Sabrina Ferreira em 15/10/2011
Código do texto: T3277339
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