CÉUS DE NEVADA
Desgrenha o frio pelos Pampas,
Vai faltar bóia pro gado,
Já falta canha nas guampas,
Até o silêncio é gelado.
Gelam as palavras na boca,
O vento corta as orelhas,
Os machos dormem de touca
Gemem de frio as ovelhas.
Dobram assovios as esquinas,
Cataventos roem os eixos,
Nada se vê nas meninas
Mais que a batida dos queixos.
O ar da graça do sol
Também congelou no céu,
A cor carmim do arrebol
De gris pintou o seu véu.
Nas bordas dos horizontes
A chuva cai “em carreiro”,
Cabeças d’água nas pontes
Detém o ir do arrieiro.
Resta o fogão e a cama,
Altar pampiano sagrado,
A prenda, fumo e uma rama
E dois olhares de agrado...