Minha Lua
A lua me acordou duas horas da madrugada
Transpassando a vidraça da janela em silêncio
Dia onze de março clareando meu repouso
Com seus raios límpidos e mensageiros
Trazendo notícias da amada e de Jorge
Galopando em seus cavalos árabes
Mim lembrou dos tempos das cruzadas
E do sangue dos soldados de Cristo
Que fecundavam os campos de batalha
A lua sorriu de suas amigas bruxas
Cremadas na lenha da maldita inquisição
Falou de Valkíria sua irmã aqui na terra
Fada madrinha que alimenta as estrelas
Com o mais puro dos azeites do universo
A lua quase saindo beijou o meu rosto quente
Disse me para semear a semente do algodão
Para construir asas que não são de Ícaro
Pousar sobre os campos do sertão
Onde os pardais e os periquitos
Se alimentam dos insetos de Kafka
E da farinha de Câmara Cascudo
A lua foi embora com certeza de regressar
Deixou seu último recado:
Para eu não deixar de escutar
A voz do universo e as “cantigas de estradar”
Sua última palavra: “Eu sou a lua que ilumina
o sertão;talvez voçês não saibam,
além de mãe de Jorge eu sou avó de Elomar
e bisavó do Rio Gavião.