NEGO VÉIO
Nego Véio
Sô Antônio contador de historias belas.
Já foi Escravo, Soldado e é Poeta.
Negro garboso conquistador de mulheres da realeza.
Quem o conheceu mais moço, conta as suas proezas.
De chinelos de dedo, sentado em um banco de madeira.
De pernas cruzadas, pica o fumo-de-rolo.
Suas experiências, seus versos, prosas e causos,
Valem mais que qualquer tesouro.
Crianças, Jovens, Senhora e até Senhores.
Sentam-se em volta do banco de madeira,
Para ouvirem o "Nego Véio", poeta falando.
Todos encantados, sorridentes e atenciosos,
Que também acabam sonhando.
Mais um verso, uma prosa ou um causo.
Ninguém arreda o pé de perto do banco de madeira.
De vez em quando, Sô Antônio,
Da uma cusparada, um gole de pinga no gargalo,
E um trago no cigarro de palha.
Mais um sonho prosado já vem.
Todos sabem que a cabeça do "Nego Véio" não falha,
Pro sorriso e pros sonhos também.
Mais de cem anos Sô Antônio deve ter.
O sorriso das crianças, os poemas versados e prosados,
É o que faz ter mais vontade de viver.
O trabalho braçal, pesado de outrora.
Agora nada mais importa.
Prefere esquecer e dedilhar a viola.
Sô Antônio nunca foi Santo, Beato ou Macumbeiro.
Simplesmente viveu e vive a vida de seresteiro.
"Nego Véio" já conheceu quase o mundo inteiro.
Quando fala da escravidão,
Sempre uma lagrima dos olhos cansados,
Insiste em escorrer.
Mas com uma nova canção dedilhada,
Logo sorri ao ouvir os presentes o aplaudir.
Sô Antônio, "Nego Véio", Poeta,
Contador de histórias belas e Violeiro.
Mais cem anos de vida vai viver.
E quem sabe, conhecer o mundo inteiro.