Métrica
Esta copla é um regalo
A quem já me criticou, ou me critica.
Alegam que meus versos são disformes,
Que me falta a métrica.
Acho que eles não veem
Ou não querem compreender
Que rimas e estrofes não podem manear o que sinto.
Minha métrica é o clarão do guaxo
Que se assenta no horizonte.
Roubei-a de uma lonca crua,
Dos disformes tentos de uma soga bem sovada,
Da espuma do amargo,
Do pasto que rebrota.
Quem lê o que sinto e penso deve vê-lo
Como olharia os calos na mão do guasqueiro,
As cicatrizes de um ginete,
O soalho gasto no umbral da pulperia.
Ai então entenderia a minha métrica.
Só não me peça um verso moldado
Que obedeça a algo ou a alguém
Por que minha copla é meu espelho:
Redoma e gaviona,
Que de em pelo e sem cabresto
Galopa livre nos campos do pensamento.