A FARRA DO BOI DA BARRA
Por sua braveza e porte,
Ele é escolhido e laçado.
Animal traiçoeiro e forte,
No caminhão foi alojado.
São trazidos lá do Mato Grosso e Paraná,
Muitas vezes de outras cidades e regiões.
Em pouco tempo na mangueira ele estará,
Para a farra e alegria da galera e dos peões.
Veio gente de todo o tipo, idade, até feição;
Tinha o bêbado, o banguela, negro e alemão.
Mulher, cachorro, criança, o Chico e o João.
O boi é solto lá dentro do picadeiro...
Um homem entra e sacode a camisa,
A besta bufa, corre, atropela e o pisa,
Mas, o cabra levanta-se bem ligeiro.
Da multidão sai os gritos de olé e vaia.
A idosa de tão nervosa levanta a saia.
Os medrosos botam fogo na sacanagem,
Desafiam-no berrando: Vai, vai, coragem!
Um garoto entra, pula e balança um pano vermelho.
E lá vai o touro em grande disparada, muito zangado.
Corre, pega e não pega, dá-lhe uma chifrada no joelho,
O menino cai e inteligentemente finge estar desmaiado,
Levanta mancando, vai para a cerca, está muito ferido.
O povo levanta-se da bancada, aplaude fazendo alarido,
Lá vai outro atrevido abusar e mexer com o animal.
Segura o rabo do touro que dá um coice pro lado,
O moço desvia e tropeça, ouve-se OLÉÉ da geral.
Cambaleando muito um bêbado teimoso o provocou.
Gritavam: Tira ele, deixa ele, a adrenalina subiu então.
Ele desafiava o touro com o copo de bebida na mão,
Falava com cara de coragem: Vêm tôrinho, vêm torâo.
O touro raivoso e babando, cavoucava o chão.
O bicho mesmo cansado e muito nervoso desembestou.
Com uma cabeçada certeira, o infeliz bêbado derrubou,
Levantou embaçado e com a cara suja de areia preta,
Perdeu o rumo, mas ainda assim pro touro fazia careta.
O povo já chorando de tanto rir,
Não deixou de o fulano aplaudir.
Agora foi a vez de um baixinho que era metido a valente.
Encara, acena, provoca e toma um bom gole de cachaça.
O touro corre, chifra a sua boca arrancando-lhe um dente.
A platéia não agüenta mais, se rasga de tanto achar graça.
Comidas, alegrias, brigas, protestos, curativos e bebedeira.
O que essa gente pensa em querer fazer é só a brincadeira.
Mas, numa verdade cruel, o maior amigo para eles é o tourinho.
Afinal, sendo a favor ou contra, ninguém nega um churrasquinho.
Só haverá diversão se nós respeitarmos o animal.
Assim tudo ocorrerá conforme uma luta por igual.
Talvez no fundo ele tenha uma carga de compaixão,
Pois o peão da Barra, para nos alegrar sai até ferido.
Mas aí fica quem sabe a lição da antiga tradição,
Da origem de um povoado. Herói ou bandido?
Maio de 2002.