MEU ALENTEJO
Terra abençoada p'lo sol, cheia de paz e lonjura,
és tu, meu Alentejo!
- mas onde está a vida que outrora te sustentava?
- onde estão as searas ondulantes como ondas do mar
que raparigas ceifavam, cantando ao desafio?
- onde estão os viçosos montados e suas varas de porcos?
- onde estão os ranchos de homens e mulheres,
oriundos das beiras, os Ratinhos!
que trabalhavam a terra que dava o pão?
- onde está o pastor de capote e bordão,
seguindo atrás do rebanho, com o seu rafeiro?
Espraio o olhar na tua imensidão.
Apenas silêncio e solidão!
E sofro
- com a terra abandonada, castigada por leis ingratas,
castradoras da vida...
- com os campos desertos e secos,
salpicados de pedra,
onde apenas se agitam a giesta e a esteva,
pois também a água te abandonou...
- aqui e além, pelas herdades,
as ruinas silenciosas do que outrora fora um lar,
testemunhas esquecidas de tempos áureos...
- cidades, vilas e aldeias,
paradas no tempo, de olhar distante!
partiram os jovens, cheios de ilusão,
ficaram os velhos, cansados dela!
Ó minha Terra, meu chão sagrado!
Torrão de um país que me viu nascer!
terra de gente humilde mas lutadora,
de temperamento moldado p'la campina,
berço de valentes que desbravaram o Mundo...
Tens em ti o sol que nos ilumina,
o calor que nos aquece,
a paz que nos acalma,
a pureza do espaço que nos liberta,
a magia no despertar...
És a moira encantada que nos prende
e no teu olhar, materno, doce e profundo,
brilham miragens de novos horizontes!