Aos Pobre e Ricos
Minha poesia tem pernas compridas,
braço de aço e voz de trovão.
Com lágrimas jorrando do coração,
ouve o triste lamento de muitos aflitos.
O eco do grito de grito distante de pobre menino,
pedindo ao rico maldito um pedaço de pão.
Minha poesia vem de longe... muito longe.
Vem da caatinga, das entranhas profundas do velho sertão.
Carrega consigo os espinhos da vida, a vida sofrida
e chagas sangrando na palma da mão.
Minha poesia às vezes é pura loucura.
é demência satânica de fica na mão!
Anda sem rumo por becos e ruas escuras.
Guarda no cerne da alma cruel desatino.
Clama sozinha aos gritos pelo extermínio
de todos, ou, de uns poucos ricos meninos,
para salvar a vida de muitos, ou de todos famintos!
que morrem de fome em campo de concentração.
Pelos maus pensamentos... insano desespero!
como ponta de faca afiado enterrada no peito.
Finge negar o íntimo desejo do vil extermínio.
Amaldiçoa a luxúria do milionário de berço.
Xinga, blasfema, arranca os cabelos!
e de lágrimas no rosto, ao santo querido...
no dia seguinte, pede perdão.
Outras vezes nem respira.
Como retrato esquecido no fundo da mala,
fica quietinha, quase calada no canto da sala,
rezando baixinho de terço na mão,
olhando tristonha a alma do rico,
sendo arrastada...
de luxuoso caixão!