Metamorfose

Sou cria do interior, gerada em noite de luar

Forjado na lida do campo em meio à geada

Tive infância bem vivida, não posso me queixar

Mas aprendi a ser gaudério, bem no início da empreitada

Já levantei bem cedinho pra olhar os bois na invernada

Acender o fogo de chão utilizando o braseiro

Já quebrei milho na roça, já cheguei de madrugada

Procurando os desgarrados que estavam no potreiro

Já amanheci acampado ao lado da cachoeira

Esperando o temporal pra sujar a água do rio

Preparando o anzol com a linha de primeira

Para pescar o dourado e vencer o desafio

Já amanheci mata à dentro, tirando tatu da toca

Dando lance de rede, para tirar as traíra

Nunca corri de briga, muito menos de chinoca

Índio “véio” peleador, se hoje encontro me admira

Tanta coisa eu já fiz, que às vezes até me espanta

Tantos bailes eu já fui, tantas prendas namorei

De tanta prenda bonita, só uma hoje me encanta

É a dona do meu rancho, chinoca com quem me casei

Para encurtar nossa prosa, já estou sentindo saudade

Tudo aqui é diferente do que eu estava acostumado

Larguei a lida do campo e vim morar na cidade

Aprendi a fazer versos para relembrar o passado

Não tenho muito dinheiro, mas tenho felicidade

Sou amado e sei amar, sou poeta apaixonado.

Luis Roggia
Enviado por Luis Roggia em 16/04/2011
Código do texto: T2912340