A LEGÍTIMA DESESTÓRIA DO INCANSÁVEL AFRÍGIO AROEIRA

A LEGÍTIMA DESESTÓRIA DO INCANSÁVEL AFRÍGIO AROEIRA

(1º lugar no II Concurso Poesias Ed. UFMS 1999)

A felicidade é estradeira

para então necessário é dissolver costuras

revirar as bainhas do silêncio e

indagar das cavalinhas o caminho do oráculo

onde se vendem promessas

e mistérios de semana santa.

Também é preciso inferir o medo

mensurar as forças do escuro

desmontar o muro, pessoar as coisas

e represar o mito

debulhando as pegadas no cascalho.

É que largaram pelos quintos

as madrugadas e cansaram

de contar estios.

Afrígio, duplicativo

após muito entrevistar

formigas parideiras e perseguir calangos

pensou tê-la achado

num curral de vidro. Não era.

Cansou de serrar cornos

viandou pelos chãos

até pocar os calos num quintal de luzes

onde a desinfância tinha valor marcado

na tatuagem das coxas

pela fissão da cachaça:

entremeou, desgastou os olhos

chorando branco. E andou. Não era.

Aroeira esmagou estrume

e deixou asfalto fubento

xingou o tempo;

de raiva, descarregou o cravinote

na primeira nuvem que voava baixo

e capinou o buço a punhal

transbordou o embornal, de cheia

ribanceirou, ribanceirou

e se esbarrou na capital

foi dar com os quartos no tacho verde

de salmoura e areia;

desdentou de rir vendo as moças nuas

lambendo o sol.

Intentou desentristecer a cidade

de tanta luz amarela

beirou as sarjetas e desancou os postes

virou bicho quando lhe roubaram

as estrelas

(não foi, era só um furo n’algibeira).

Desgostou dos fios. Era tudo enorme

sem cumieira. Rebuscou os vãos

com olhos de vermelho

fez-se escravo dos ponteiros. Não era.

Afrígio pariu quimeras e teve

crias para abençoar,

mas carecia de esmolas

e de encontrar sentenças.

Homequá, disgrama,

este é o meio da desestória, não acaba.

Vigiliei Afrígio tresontonte,

escondendo aurora

pegando picula com o cheiro da chuva molhada

criando cisco na lapela.

Nera longe, não, pilhéria. Cansou

remendou atalhos, desconversou da sorte e

voltou pra brincadeira

artesão de latas e esferas.

A felicidade é estrada...

enganaram Aroeira.