A CASA DAS PALAFITAS
Eu moro naquela casa
Em cima das palafitas,
Que não têm as cores das fitas.
Mas têm a essência das flores,
Muito embora os dissabores
Não permitam aparecer.
Nas palafitas onde moro,
Brinco, corro, dou risadas,
Mas as vezes eu também choro.
Porque minhas palafitas,
Por não ter as cores das fitas,
Muita gente ao vê-las diz que:
São feias,desarrumadas,
E ainda as conceituam
De amontoadas de tábuas,
E barracos amarelados,
Estas minhas palafitas.
Eu moro nas palafitas,
Que não têm as cores das fitas,
Mas ali vivo a sonhar:
Em fazer até balé,
Rodopiar num só pé,
Sonho em fazer canções,
Estudar muitas lições.
E pintar todas as tábuas,
Uma a uma se eu puder.
Também vou comprar só tintas bonitas.
Só pra ninguém mais chamar
Este mundo aonde moro
De amontoados de tábuas,
Nem barracos amarelados,
Estas minhas palafitas.
É porque eles não sabem
Que aqui nestas palafitas,
Mesmos sem as cores das fitas,
Existem muitas crianças,
Que têm em seus corações
A essência de muitas flores
E as cores de muitas fitas!
O poema “A Casa das Palafitas” foi criado, ou seja, elaborado conforme meu "ponto de vista " em relação aos moradores das palafitas, principalmente as crianças da área alagadiça da cidade de Laranjal doJari-AP.
Escrevi este texto poético depois de muita reflexão a partir de muitas reportagens, entre elas, a da "Revista Terra" em 2002, onde lá encontrava-se estampada a cidade Laranjal do Jari, "A maior Favela Fluvial do Mundo"; e, nestes comentários estavam ali as filhas de moradores da comunidade com suas fotografias sendo escandalizadas: como prostitutas, garotas de programas, sendo mostradas para o mundo.
Na verdade, aquelas meninas eram "nada mais, nada menos" que vítimas da falta de apoio social da localidade de onde moram;
Falta de oportunidade para estudos, conhecer outros modos dignos de vida.
E foi pensando desta forma, principalmente, nas crianças que ali moram que escrevi o poema "A Casa das Palafitas".
Sou professora e lecionei por determinado tempo naquela área e,tive a oportunidade de ouvir deles próprios, as criança, dizerem que se acham inferior às outras pessoas. Isso me chocou muito em saber, ou melhor, em vê que crianças crescem já com o conceito de inferioridade.
E passei a me perguntar: o quê eue eu posso fazer por estas crianças? Nao tenho dinheiro, não estou no poder, mas logo me veio a resposta: Deus me deu o dom de escrever , e foi quando escrevi o texto " A Casa das Palafitas".
Conhecendo um pouco dessa realidade que não é muito agradável, nem para se contar, nem tão pouco para se ouvir.
Pois bem, a cidade de Laranjal do Jari-AP, é constituída por duas áreas: uma de várzea que fica alagada todos os anos durante o período das chuvas, por isso as casas são construidas em cima das palafitas;
a outra área é de terra firme, que é para onde a cidade cresce a cada dia. E é na área das palafitas que a situação se complica, porque foi por lá que a cidade surgiu, e de forma totalmente desordenada.
É por lá que se começa toda a historia complicada de Laranjal, pois além dessa área ser escandalizada em jornais e revistas famosos, também há certa discriminação por parte de algumas pessoas para com os moradores das palafitas.
Sendo que, ´a área de palafitas tem lá suas peculiaridades:
foi por lá, que nasceu a cidade de Laranjal o Jari, e como o tal surgimento se deu em função do grandioso "Projeto Jari" que fica situado do outro lado do rio Jari, mas em terras paraense.
E, Como esta cidade nasceu em função deste ambicioso projeto, é ai que se inicia as histórias, meio que desagradáveis. Foi nessa área que foram instalados os bares, as boates que eram para onde vinham a grande demanda de funcionários do Projeto Jari se divertirem em seu dias de folgas. E, devido a estes fatos é que a área das palafitas sofreu e sofre tais discriminações até os dias atuais.
Devido esses fatos ocorridos e, que, vigorou por mais de três décadas, é que a área das palafitas dessa cidade é uma área que merece uma especial atenção, precisa ser olhada com carinho e, principalmente precisa ser revitalizada, ser, digamos que, reconstruida, até porque lá temos inúmeras crianças que têm seus sonhos, muitas vezes frustados, e nem mesmo tem a menor ideia porque são táo discriminadas.
São por esses motivos, mesmo sem saber a verdadeira razão dos fatos elas se acham inferior as demais pessoas.
Lucia Souza dos Santos.