O Labor e a Sombra
Á sombra dos que trabalham,
Alguns outros homens folgueiam,
Carregam sobre si
A displicência costumeira
Quase irônica, irreverente,
Que as tardes costumeiras
Insistem em trazer
A revoar se vão as aves viajantes
E os pássaros rasteiros
Em solo errante
Andam às próprias rédeas
E nos igarapés,
Comunicam-se
Em seu canto decadente
Observam, e atentam para o outro lado
O lado dos homens – manifesto lado
O Homem brejeiro, de respingos
Algumas prosas, e poucos gracejos
E em seu indiscreto temor
Pousa-lhe a esperança atraente,
Lembranças quase ausentes
Dos olhares da moça decente
A vida, seus acontecimentos
E suas defesas
O homem honesto,
Dispõe de seus próprios argumentos
E o forte, de sua própria destreza
A solidão do pensamento
E a caridade dos sentimentos
Tornam-se tão presentes
Quanto à folha envelhecida
Que se desprende e cai
Semente que germina e silencia
Nas entranhas da terra
Á sombra dos que laboram
Alguns homens folgueiam
Recitam a si mesmos a própria sina
E guardam segredos
Àqueles que laboram,
Que em breve serão eles mesmos