RENOVAÇÃO
Seca terrível que tudo devora,
A alegria da alma a esperança e o sonho.
O grão de mamona, o feijão e o milho,
na terra rachada, esperando a chuva,
enterrados no chão.
Num canto da casa, os filhos pequenos chorando aos gritos.
Noutro cantinho, no alto da sala, a imagem de Cristo.
A pobre mãezinha rezando calada de terço na mão,
aflita pedindo ao santo querido,
para os filhos famintos,
um pouquinho de pão.
No meio da roça o velho Simplício de inchada na mão,
olhando tristonho a maldade da seca; a terra rachada,
a semente secando embaixo do chão.
O gado morrendo na beira da estrada,
a poeira subindo do ribeirão.
Na casinha de taipa,
sobre o velho Jirau, a louça lavada.
A farinha num canto, da safra passada.
A água barrenta na pequena cabaça.
Um punhado de feijão na panela amassada.
A fumaça subindo do negro fogão.
Mas a chuva sagrada tudo renova.
A esperança e o sonho do homem faminto.
A mamona verdinha, o feijão e o milho,
como milagre brotando do chão.
Ao lado do pai, a magia do riso dos filhos pequenos,
comendo festivo milho cozido e pedaço de pão.
Na beira do rio a mãezinha contente,
como cigarra, cantando alto...,
uma linda canção.
Do alto do céu a chuva caindo.
A vida surgindo da terra molhada,
cobrindo de verde, como esmeralda,
a terra vermelha de todo o sertão.