UM VERSO, OUTRO E MAIS OUTRO
Canto a querência que venho
Nesta milonga ponteada
Ao clarão da madrugada
Que embala os sonhos meus
Quem a cantar aprendeu
Junto do choro do vento
Tem sobra nos argumentos
E a luz que emana de Deus!
Trago um laço trançado
Por tentos tirados a faca
Couro curtido na estaca
Bem sovado e desquinado;
Uma guitarra ao meu lado
Pra amadrinhar a canção
Tendo os dois perto da mão
Sempre estou bem preparado.
A guitarra vai refletindo
A luz que do fogo vem
E a minh’alma também
Reflete a paz do galpão.
A minha voz vem do chão
Pra revoar na garganta
Quem sua verdade canta
Fala pelo coração!...
Quem canta os males espanta
Há um ditado que diz...
Mas que ensine a ser feliz
Nenhum ditado adianta.
Por isso a luz de quem canta
Está além deste plano
Presa ao sentimento humano
E na canção se agiganta.
Quando a milonga convida
A cantar de improviso
De quase nada eu preciso
Pra rimar com galhardia
E a alma traz a poesia
Num tropel de eguada e potros!
Canto um verso, outro e mais outro
Chamando as barras do dia...