O Gado

Caminhando pela vida, um errante
Com o seu berrante na estrada arenosa...
Tocava o gado que o seguia em levante.
Cordeiro, o gado gemia de forma furiosa
Seguia-o rastreando os seus passos
Aos gemidos e sorrisos e abraços...

Quem disse que o gado não ama...?
Sofre calado, baba para não chorar...
Sabe que a sua carne faz sua fama
No açougue, post mortem, no altar
No matadouro sua alma chora...
Quem não a ouve é porque a ignora...

O gosto sublingual e prazeroso
Faz de sua carne o principal
Sabor de morte; o veneno amargoso...
Um irmão no universo universal
No estômago, ácido, apodrece
Carne que aos nobres enriquece.

É no bolo fecal que a vingança
Antes estabelecida, se estabelece
Rico ou pobre se enobrece
De carne podre, apodrecida na herança
Ao degustar um prato com herbicida
Torna-se um comilão digno e suicida.

Gado bovino ou caprino ou suíno
Hino de bestas e bestiais em agonia
Sofre o gado, morre o beduíno
O escravo que se formou em filosofia
Que se basta no grego ou no latino
Comeu da vaca e morreu pelo intestino...
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 22/12/2010
Reeditado em 28/04/2011
Código do texto: T2686778
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