MENINO ABRA DO OI
LITERATURA POPULAR
Autor: Claudson Faustino
MENINO ABRA DO OI
Casa de taipa e alpendre,
Um banco e dois tamborete,
Uns ossos de “galete”
Num terreiro bem barrido,
Bostas de cabrito
Espalhadas pelo chão,
No “bura” um “cocão”
E um moleque “zanoi”,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Um pé de mandacaru
E um tiro de baladeira,
Criança na mamadeira
E outra querendo “bubu”,
Uma matando cururu
De lado do cacimbão,
Cuia, pinico e pilão
E um chocalho de boi,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Um “quarenta” com café,
Tapioca e macaxeira,
Tigela na prateleira,
Faca, garfo e colher,
Um chapéu e um boné,
Fogão a lenha e carvão,
Caçarola com pirão
E buchada com arroz,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
No banheiro uma goteira
E uns canecos de lata,
Lagartixas e baratas
Andando nas “teias”,
Uns berros de “oveias”,
Algarobas e camaleão,
Golinhas no assaprão
E um jumento zarôi,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Três bodes e um carneiro
E um poço escassez,
Galinhas e galo pedrês
Dentro do galinheiro,
No fundo uns marmeleiros,
Gravetos e um pavão
E no terraço um caldeirão
E um chifre de boi,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
No terreiro um pote d’água
E uma cadeira de balançar,
Um pião e um caçuá,
Barris e galões de água,
No varal uma anágua,
Uma corda e um gibão,
No batente um pano de chão
E uma “muier” catando “pioi”,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Carro de tábua prostrado,
Cuscuzeira e rapa-coco,
Um arrancador de toco
Em um toco sentado,
Com enxada de lado
E um caibo de “foimão”,
E uns sacos de ração,
Milho, fava e arroz,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Moleque cheio de remela
Atacado por muriçocas,
No prato duas tapiocas
E muita farofa na panela,
“Véia” cubando da janela
Pra depois a falação,
Vaqueiro com um violão
Dirigindo um carro de boi,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Um peru velho tarado
No meio do quintal,
Uns tocos, uns paus
E uns arames farpados,
Um chiqueiro varado,
Um carro “véi” a bujão,
Caixote, baú e caixão,
Onde a galinha já “poi”,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Pamonha, milho e canjica,
Menino tirando meleca,
Um jogo de peteca,
“Esconde, esconde” e “tica”,
“Cavalo de pau” e “pipa”,
“Policinha e ladrão”,
“Elástico” e “garrafão”,
São as brincadeiras que já foi,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Avéloz, jurema e jatobá,
Buraco de peba e formigueiro,
Xique, xique e cupinzeiro,
E na arapuca um preá,
E um canário a cantar,
Na tardezinha do sertão,
Culto, xangô e procissão,
E um bumba-meu-boi,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.
Uns políticos corruptos,
Padre, crente e macumbeiro,
Uma bicha e um cachaceiro
Dentro da casa do matuto,
Brigas, arengas e chafurdo,
Com foice, faca e facão,
Porta, porteira e portão,
Fechada com trinco e “ferroi”,
Menino abra do oi
Pra coisas do meu sertão.