O CABRA PRA SER MATUTO
LITERATURA POPULAR
Autor: Claudson Faustino
O CABRA PRA SER MATUTO
O cabra pra ser matuto
No sertão do nordeste
Tem que ser cabra da peste
Tem que dá muito cascudo
Em moleque amostrado
Tem que ser descabriado
Feito cabra carrancudo.
O cabra pra ser matuto
Nesse solo nordestino
Tem que ser peregrino
Diante do solo enxuto
Tem que ser afeiçoado
Arrochado e aprumado
Feito uma flor de sabugo.
O cabra pra ser matuto
Nesse solo do sertão
Tem que dá muito carão
Em político corrupto
Que anda com uma maleta
Sendo um cabra picareta
Desonesto e sem futuro.
O cabra pra ser matuto
Nesse solo rachado
Do agricultor esfarrapado
Do homem sem escudo
Da terra do sol quente
O cabra tem que botar quente
Nas arengas de chafurdo.
O cabra pra ser matuto
No Nordeste brasileiro
Tem que ser violeiro
E cantador de tirar luto
Pra poder sobreviver
E nessa vida reter
De minuto a minuto.
O cabra pra ser matuto
Nesse solo derradeiro
Tem que ser beradeiro
Dando uma de maluco
E sair desembestado
No variante largado
Feito velho caduco.
O cabra pra ser matuto
Nesse pedaço de mundo
Do sertanejo profundo
Do trabalhador absoluto
Tem que ser arretado
Tem que ser descabriado
Feito cabra bruto.
O cabra pra ser matuto
Nesse pedaço de terra
Que é caatinga e serra
É preciso ficar puto
Com a corrupção do país
Com espevitado infeliz
Que sabe fazer furto.
O cabra pra ser matuto
Nesse pedaço de chão
Tem que comer feijão
Tem que ser muito astuto
Pra poder sobreviver
E nessa vida vencer
Feito velho linguarudo.
O cabra pra ser matuto
Nesse solo do agreste
Tem que ser do nordeste
E mostrar que não é devoluto
E dizer que é brasileiro
E não é nenhum fuleiro
Nem bandido e impoluto.
O cabra pra ser matuto
Nesse chão do interior
Tem que dizer que é agricultor
Um cabra macho resoluto
E dançar no São João
E comer buchada com pirão
Mostrando seu atributo.
O cabra pra ser matuto
No sertão que não chove
E dos políticos que não resolve
A situação do recruto
O cabra tem que ter amor
Ser doutor agricultor
E, sobretudo, ser matuto.