Mineira Idade
Nesta minha mineira idade
Falta-me o tempo
Sobra saudade
Da vaca de tetas murchas
Pastando tranquila
Na beira do regato que passa à porta
Nesta minha mineira idade
O orvalho se faz no pranto
De ouvir o sabiá na mangueira
Cheio de mágico lirismo
Encantar o rude homem
Com as notas do seu divino canto
Nesta minha mineira idade
Desejo o barulho da lenha estalando
Pra esquentar a broa caseira
Deixar no ponto o café
Assar o pão de queijo no jeito
Que não deixa o mineiro a pé.
Nesta minha mineira idade
Faltam-se os causos
O riso das danças
A mesa posta na hora da janta
O lombo na lata
A prosa no beiço
Nesta minha mineira idade
Já não acelero o passo
Me para a saudade
Que aperta o laço
Do povo simples e sua religião
Que ama Deus e teme assombração
.
Nesta minha mineira idade
Falta-me um sorriso amigo
Que acolhe quem aponta na porteira
E mostra na gengiva banguela
No brilho do olhar menino
Gentileza hospitaleira
É nesta a minha mineira idade
Nostálgico de tantas lembranças
Que na muita força do gostar
Meu desejo já não é errar
A mim não faz nem falta
Que Minas não tenha mar.