AMOR SERTANEJO

Neste pedaço de chão

De quase nada

Eu tenho quase tudo

Minha casa pobre

Velha, de taipa, mas minha.

Minha rede,

Também velha, encardida

Acostumada a viver

Esticada no canto da sala

Como a mostrar a sua disposição

Para embalar o meu cansaço.

A minha enxada

Companheira, amiga única,

Com quem divido

O meu trabalho

A minha fome

A minha esperança

E desesperança...

A minha lamparina

Estrela que ilumina

O escuro do meu casebre

Quando a escuridão da noite

Cobre o meu pedaço de chão.

O meu burro, tão cansado

Quanto eu, de tanto carregar

As minhas cargas, principalmente

Quando a estiagem é prolongada

E a terra não dá o alimento

Que ele precisa.

Minha vaca que, como o burro

Dá bem mais do que recebe.

Quando a seca é braba

É com a vida dela

Que eu salvo a minha vida

Mato a minha fome

Com a sua carne

E não a vejo morrer de fome.

O meu rio ( passa ali do lado)

Fonte de vida que, às vezes, se esgota

Que é uma das minhas

Maiores tristezas

Vê o seu leito seco

Rachado, endurecido

Como se nunca mais

Fosse voltar a jorrar.

E o meu amor maior

Minhas roças...

É lindo vê-las brotar do chão

Cobrindo de verde

Todo o espaço onde a vista alcança.

È como s fosse a minha vida

Brotando em cada pé de feijão

De milho, de abóbora, de melancia...

Perco horas olhando envaidecido

A vida brotando da terra

Trazendo beleza para os olhos

Felicidade para o coração

E alimento para o sustento do corpo.

É por isso, que,

Nesse pedaço de chão

De quase nada

Eu tenho tudo que a terra

Pode me dar

E por mais que a seca castigue

Que a fome doa

E que os olhos fiquem

Tão áridos quanto a terra

Calejados de ver tanta fome

Tanta morte, tanta amargura

Eu não saio daqui

Aqui é o meu lugar

Meu paraíso

Meu verdadeiro lar.

Marsoalex
Enviado por Marsoalex em 16/11/2010
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