Tristeza Sertaneja

No chão de terra seca,

Na casa de pau-a-pique,

pisa no chão um canela-seca,

realidade da fome de quem vive

rasgado tem as suas roupas

mãos, alma e respeito

traz seu desespero no peito

e, nas tripas, o resto frio das sopas

um cachorro velho corre no quintal

magrelo véio feito um pau

e seco sentado no batente,

na cabeça batendo um sol quente

o Sertanejo olha, tendo na boca

um gosto amargo de sal,

mas não sal de tempero,

porque pra isso lá tem dinheiro

a comida do zé tem é o tempero do chêro

da fome, do cansaço e do sol.

O gosto salgado que arde

é o das lágrimas que lavam a poeira seca do rosto

mostrando pra ele mesmo o gosto

de como é viver na realidade.

Então ele vai vendo a terra

com a boca seca,

ao longe escuta uma carreta

quem dera a ele que uma tivera

seu transporte é a sola da alpercata

da tira presa com um prego

que carrega no pé

com a sola toda lascada

êta seca arretada!

mas que eu sei que um dia acaba,

porque setanejo pode até ser sofrido,

mas carrega no peito doído

dez mil balaios de fé.

Cadu Guerra
Enviado por Cadu Guerra em 26/08/2010
Reeditado em 23/09/2010
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