Tristeza Sertaneja
No chão de terra seca,
Na casa de pau-a-pique,
pisa no chão um canela-seca,
realidade da fome de quem vive
rasgado tem as suas roupas
mãos, alma e respeito
traz seu desespero no peito
e, nas tripas, o resto frio das sopas
um cachorro velho corre no quintal
magrelo véio feito um pau
e seco sentado no batente,
na cabeça batendo um sol quente
o Sertanejo olha, tendo na boca
um gosto amargo de sal,
mas não sal de tempero,
porque pra isso lá tem dinheiro
a comida do zé tem é o tempero do chêro
da fome, do cansaço e do sol.
O gosto salgado que arde
é o das lágrimas que lavam a poeira seca do rosto
mostrando pra ele mesmo o gosto
de como é viver na realidade.
Então ele vai vendo a terra
com a boca seca,
ao longe escuta uma carreta
quem dera a ele que uma tivera
seu transporte é a sola da alpercata
da tira presa com um prego
que carrega no pé
com a sola toda lascada
êta seca arretada!
mas que eu sei que um dia acaba,
porque setanejo pode até ser sofrido,
mas carrega no peito doído
dez mil balaios de fé.