P’a um Hermano Oveeiro

Já pra aquela madrugada,

O tempo me reservava algo de estranho

Cosa que não sabia eu da forma ou tamanho

Quando me atei em disparada.

Eu sentia o vento norte

Que cuntrapunteava o sereno madrugueiro

Com a coscorra firme dos meus arreio

Como prelúdio da própria morte.

Ah! Se eu soubesse que a imprudência

Do carreirão beirando o alambrado

Sacrificaria meu oveeiro bragado,

Que inda me pesa na consciência...

Ficou seu basto firme

Pendurado num gancho do galpão

E o suor que encharcou seu chergão

Que usavas no dia derradeiro

Inda me lembram bem, companheiro

Das nossas tranqueadas e lidas,

Das pialadas e recorridas,

Das potradas que amadrinhei.

Descansa em paz meu pingo

Na sombra do angico copado

Que o que fiz foi pecado

E nesta copla le bendigo,

Que o campo que te trouxe a vida

Agora te traz ao seu seio novamente.

Mas a lembrança do teu olhar silente

Que me lançastes na hora da despedida

Deixou-me um talho n’alma, meu amigo:

A falta que fazes não tem medida!

(Dedico esta copla a todos que já sofreram a perda de seu pingo da montaria, que sabem bem do que fala estes versos, destes sentires.)

Danielle Lorenzi
Enviado por Danielle Lorenzi em 24/08/2010
Reeditado em 22/08/2011
Código do texto: T2457040
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