P’a um Hermano Oveeiro
Já pra aquela madrugada,
O tempo me reservava algo de estranho
Cosa que não sabia eu da forma ou tamanho
Quando me atei em disparada.
Eu sentia o vento norte
Que cuntrapunteava o sereno madrugueiro
Com a coscorra firme dos meus arreio
Como prelúdio da própria morte.
Ah! Se eu soubesse que a imprudência
Do carreirão beirando o alambrado
Sacrificaria meu oveeiro bragado,
Que inda me pesa na consciência...
Ficou seu basto firme
Pendurado num gancho do galpão
E o suor que encharcou seu chergão
Que usavas no dia derradeiro
Inda me lembram bem, companheiro
Das nossas tranqueadas e lidas,
Das pialadas e recorridas,
Das potradas que amadrinhei.
Descansa em paz meu pingo
Na sombra do angico copado
Que o que fiz foi pecado
E nesta copla le bendigo,
Que o campo que te trouxe a vida
Agora te traz ao seu seio novamente.
Mas a lembrança do teu olhar silente
Que me lançastes na hora da despedida
Deixou-me um talho n’alma, meu amigo:
A falta que fazes não tem medida!
(Dedico esta copla a todos que já sofreram a perda de seu pingo da montaria, que sabem bem do que fala estes versos, destes sentires.)