NOS JARDINS DE CONCRETO

(Pelas ruas e cantinhos de São Paulo)

Já despontam pela cidade

os primeiros sinais

duma primavera apertada.

São flores tímidas e encarceradas

pelos tantos espaços ocupados

-desordenadamente roubados!-

Explícitos e inóspitos berços de flores saqueadas!

São floradas que afrontam seus relógios biológicos

e despem-se adiantadas,

Porque pode não lhes haver tempo

-De florir a tempo!-

Pelos antigos caminhos que já desconhecem.

São primaveras coloridas que vieram de longe,

Azaléias embevecidas das tênues pinceladas primaveris,

E raros flashes de Ipê amarelo, cá ou acolá,

Nalguns silenciosos cachos de desbotadas flores...

que precocemente já dormem nas calçadas das noites.

Percebo uma certa assincronia nesse ar primaveril.

Flores que parecem obrigadas, quiçá sejam destinadas!

A cumprir arbitrariamente suas precoces floradas!

Vez ou outra um pássaro canta,

Como que a lamentar

(ou a saudar?)

Sua primavera desconexa.

E nos inúmeros jardins de concreto

Sequer as primaveras

São a beleza da poesia genuína.

Há que se adubar "de cidades"

o branco verso outorgado

ao empedernido despertar das flores.