Educação no campo
No estudo de História
Gosto de prestar atenção
Falam de Grécia e Roma
Até de Napoleão
Só não lembram do município
Sua origem e fundação
Também falam das Américas
De Colombo e de Cabral
E esquecem do que me interessa
Da história do meu local
Põem a culpa toda no livro
Que vem lá da capital
Mas dizem que contempla os conteúdos
Da avaliação nacional
A Geografia é do mundo
Menos do meu mundo
Não há riachos, nem cachoeiras
Nem grotas, chã ou ladeira
Só uma tal de vertente
De uma realidade tão diferente
Falam da floresta equatorial
Muito do Pantanal
E quase nada da caatinga
Que é o meu normal
Não falam do umbuzeiro, xiquexique ou calombi
Vegetação tão freqüente
Nas matas do Cariri
Mostram o Himalaia e o Monte Everest
E pouco falam do Planalto do Borborema
Bem aqui no nosso Agreste
Ensinam-me a ler gibi
A escrever em um papel
Mas na biblioteca que quero ir
Não há nenhum cordel
Falam de ponto, vírgula e travessão
Mas esquecem da cultura
Como fala o povão
E não há ortografia
Nem tão pouco Academia
Que mude o sotaque das pessoas
Do Sul ou do Sertão
A Matemática é tão distante
Que não faz sentido não
Ver expoente e metro cúbico
Estudar tanta função
Mas não saber de quadro ou conta
Pra medir a plantação
Em Ciências é parecido
Falam muito de preservação
Mas não mostram na prática
Como mudar a situação
Não explicam que as queimadas
Provocam desertificação
Que o desmatamento das matas
Intensifica a erosão
Que o pau-d´arco tão bonito
Está à beira da extinção
Por isso fico a pensar
Se adianta a educação
O porquê de eu estudar
E se tudo não é ilusão
A escola está no campo
Mas os conteúdos não estão não
E se isso não mudar
Vou embora pra cidade
Pra tal da urbanização
Praticar o êxodo rural
Que pelo menos isso vi
Na aula sobre migração
João Paulo A. de Lima