Retrato da Payadora (entre garras e guitarras)
Sou herdeira do trono
Da gaúcha pátria sem dono
Benção dos ancestrais;
Entre relinchos de baguais
Garras, manéus e peçuelos
Desenhei meu destino eu mesma,
Sem sequer olhar pra trás.
De certo já fui caudilha,
Maragata, farroupilha,
Guerreira de Viamão,
Fui benzida de antemão
No ventito da coxilha
E, como a flor da maçanilha
Brotei a esmo no rincão.
O tempo passa atarantado
Sem costeio e desbocado
Leva vidas e penas;
Mas no tilintar das nazarenas
Acho que o tempo para,
Se não, ao menos se cala
Pra ouvir um cantar de chilenas.
E assim é a minha estrada
De tardezita a madrugada
Sigo perdida a declamar.
Se me gusta, posso até cantar
Sobre um solo de guitarra
Entonada sobre as garras
Matando a saudade de rir e chorar.