Campesina de lida e arte
Cicatrizes fundas
Delavradas no meu jovem peito
Mostram os sonhos altos
Deste coração estradeiro
Que se bolcam redomos
Na guitarra de um posteiro
Com jujos na várzea calma,
Ou na macharrona crescente
Que se acendem num passado
Minguado no meu presente.
Sangue farrapo
Que pulsa, galopa em minhas veias
Herdei da estampa caudilha
Tino bagual de arrebentar as maneias
Sina andeja, lida rude,
Ponta de tropa, posteira.
O céu madrugueiro lamenta
Sangrando na ronda de vigília,
Apegos terrunhos, anseios guaxos
Dê-lhe boca no berro da gadaria
A aurora desponta
Se afirma o gado, se bolcam baguais
Poncho encharcado do aguaceiro
Silêncios, saudades fatais.
Negro Villa calça espora:
Amadrinhar sem elas? Jamais!
Índio Sancho da voz legüerada
Empurra culatra “nel modo oriental”
Num Criollo Huano, sem cismas nem baldas
Domado potrilho pra não ser bagual.
Outra tropa
Bien encordada até a cancela do lombilho
“Lo Villagran” se pacholeia:
Não perdeu nenhum novilho.
Foi a ultima tropa deste maio
Até outubro vai lidar c’os potrilho
Couro sovado em pialos de xucros
Mas lá pelo novembro a indiada se perfila
Já clareia o dia com outro sabor
Se ajeita a galponada na comparsa de esquila
Esquila rude
Tratando a oveiada a base de martelo
Tesoura afiada em compasso porteño
Assobio milongueiro, lida com velo,
Indiada bravata, pura na pulperia
Tosquia afinada, tempo muy belo.
Assolheiam os ponchos, c’os pila na guaiaca
Encilham os pingos e voltam pro galpão
Paieiro, causo, braseiro com carne gorda
Não pode faltar guitarra nas rodas de chimarrão
Nossos dias
Assim se passam, changueando campo adentro
Não é fácil, nem deveria
As saudades, distâncias, andanças e lamentos
Estampa rude, lida braba
Desquinados e longuiados como tentos.
Esta é minha história, este é meu caminho,
Eu nasci pra este garrão de pátria, eu herdei esta estampa
Retolvada de casco e basto no repertório da lida
E há muito o sentido da minha vida fincou raízes na pampa!