CAPANGA DE PANO
Capanga de pano no lado do corpo.
Bala redonda de barro amassado.
Bodoque certeiro esticado na mão.
Olhar medonho em Fogo – pagou.
Em bicho que voa e corre no chão.
Pés descalços na mata fechada.
Beleza oculta na caatinga molhada.
Flor de juazeiro esparramada no chão.
Jurema cobrindo de espinho todo sertão.
Calango verde na toca do imbuzeiro.
Rabo de Lagartixa solto na mão.
Lagarta de fogo na folha da aroeira.
Arapuá gigante na forquilha do angiqueiro.
João –de –barro enfeitando o galho da quixabeira.
Menino contente correndo no meio da plantação.
Mandacaru. Chique-chique. Coroa.
Sisal. Cipó de cerca. Muçurana. Acero queimado.
Ouvido atento que houve distante a cantiga do Sofrê.
Canto suspiro do Nambu ao anoitecer,
capaz de fazer criança dormir
e gente grande entristecer.
Carcará faminto no céu azul.
Garrote coberto de Urubu.
Bacurau no oco da Imburana.
Urutau que não se vê.
Cancão. Cata-pilão. Garrincha pulando
de galho em galho em volta do Caburé.
Preá correndo no meio da mangabeira.
Juriti na arapuca ao amanhecer.
Terra rachada.
Cacimba sem água.
Caatinga queimada.
Bicho que voa. Bicho que anda. Bicho que sonha!
Bicho lutando em tempo de seca
pra não morrer.