O VELHO TORNA-SE NOVO
A TERRA SECA E ÁRIDA.
A PAISAGEM SE APRESENTA EM COR
CINZENTA E MORTA; GALHOS DESFOLHADOS;
RAÍZES À MOSTRA; A AREIA BRANCA SUJA,
CHORA PÓ A ARDER COM OS RAIOS DE SOL
ESCALDANTE QUE CAI DO CÉU.
ESSE, AZUL LÍMPIDO, NUMA IMENSIDÃO A SE
PERDER NO HORIZONTE.
O VENTO, QUENTE, SOPRA SEU CALOR POR
ENTRE A PAISAGEM TRISTE, QUE AO LONGE SE
VÊ TRÊMULA. O SOLO A ENFERVECER
PARECE MESMO ESTÁ EM LABAREDAS.
NÃO HÁ ASSOBIOS, NEM CACAREJAR;
NO ALTO, APENAS CARCARÁ, À PROCURA
DE UM FALECIDO ASSADO SOBRE A TERRA,
PARA DE ESSA MANEIRA ALONGAR SEUS DIAS
AO MENOS POR MAIS ESSA ESTAÇÃO.
OS OLHOS DO SITIANTE JÁ NÃO MAIS
VÊ ESPERANÇA PARA A CARCAÇA BOVINA.
NOS AÇUDES, NEM MESMO LAMAÇAIS
ENCONTRA-SE. SILÊNCIO! O VENTO SE FOI.
E À MEIA TARDE, EIS QUE SURGE
UMA GRANDE NUVEM. NÃO! NÃO ESTÁ SÓ.
ENCOBRE O SOL QUE JÁ NÃO MAIS REINA ONIPOTENTE.
COM ESSA, APARECE MAIS UMA, E OUTRAS...
E EM TRÊS PISCAR DE OLHOS, O VENTO VOLTA,
FURIOSO, FRIO; O CALOR DESVANECE DANDO
LUGAR AO CLIMA GÉLIDO.
OS ANIMAIS QUE AINDA RESTAM DE NOVO
ESCONDEM-SE.
RAIOS, TROVÕES, CHUVA; TROVOADA
COMO DIZ O SITIANTE.
COMO QUE PRA DÁ LIÇÃO NO DESCRENTE,
A NATUREZA SE MOSTRA IMPONENTE. NÃO
TARDA PARA SE VER A CHUVA PASSAR, E ALI
DEIXAR O SEU RECADO.
COMO EM PASSE DE MÁGICA, A MAGIA ACONTECE:
A PAISAGEM PRIMEIRA DESAPARECE ANTE O VERDE QUE
BROTA COM A VELOCIDADE DA NOITE.
DO NADA, OUVE-SE “COACH”, “CRI, CRI,CRI”, “PIU, PIU”,
“BÉ”, “MOM”, “AU, AU”... UM CORO VEM
DAS GRANDES POÇAS D’ÁGUA ESPUMADAS.
OS GALHOS, JÁ NÃO MAIS SECOS, EXIBEM TENRAS FOLHAS,
QUAIS SOPRAM O FRESCOR COM CHEIRO
E SABOR DE NOVA VIDA.
CHOVE! DE NOVO CHOVE! LÁGRIMAS
DOCE/SALGADA DESLIZAM EM FACES
ENRUGADAS, OUTRORA EMPOEIRADAS E
MARCADAS PELO TEMPO QUE EM NADA
PERDOA E NADA ESQUECE.
E O NOVO SE FAZ, NÃO EM TRÊS OU DOIS, MAS,
APENAS EM UM PISCAR DE OLHO; OLHOS ESSES
QUE O ESPERAVA A TANTO.
E O VELHO TORNOU-SE NOVO!