RAIO GUACHO

Pelo novembro, como sempre, seu Toríbio

Firmava o pulso numa esquila de martelo...

Soltando o braço, parelho, “des” que maneava

Parando só pra o causo de estender um velo.

Num galpãozito, bem simples, de costaneira

Mermava a lida sem pedir a mão de alguém...

Costume antigo, de quem tem poucas ovelhas...

- Guardar uns pila nunca fez mal pra ninguém!

Sobre a mangueira, na frente do galpãozito,

Para as ovelhas, o umbu copava a sombra...

Eram quarenta, que minguavam uma a uma...

...e a meia tarde já ia com vinte e poucas!

E assim, solito, dava conta do serviço,

Por ter as manhas dessa gente do rincão...

Ia maneando, tosando e embolsando;

Curando talhos com reza e pó de carvão.

Por todo o dia – sem froxar – pulseou parelho,

- pra quem espera as horas são mais compridas -

Até que o tempo, se armou com nuvens e ventos

Fazendo o velho, parar pra cambiar a lida...

Trouxe as ovelhas da espera, pro galpãozito...

- Conforme um dia outro mestre lhe ensinou -

Puxou pra fora um couro cru, bem estaqueado

Beirando o umbu, frente o galpão se acomodou...

Ferro luzindo, tempo feio e copa alta,

Na mesma imagem, pareciam retratar...

O melhor pouso, chamando - sem dizer nada -

Pra um raio guacho, berrando, se acomodar...

No “dito e feito” – veio à ordem de um mandado

Clarão e estrondo de dimensão desparelha...

E ali por horas, ficou esculpida a cena

De um tosador curvado sobre uma ovelha!

- Quem facilita, perde a vida antes do tempo!

Foi um recado - lá de cima aqui pra baixo...

Pois quem diria: “O velho mestre dos martelos,

Partiu na lida e ainda por conta de um guacho!”

Parceria com o poeta Fábio Maciel

Melodia de Índio Ribeiro

Ramiro Amorim
Enviado por Ramiro Amorim em 15/02/2010
Código do texto: T2088589
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