Caça ao Passado
Depois de um dia de campo.
Quando chega a tardinha,
Pego um banco na cozinha
E vou sentar no terreiro.
Enquanto fecho um palheiro,
Recordo os tempos de infância.
E vejo um piazito de estância,
Com um cão, seu companheiro.
Saboreando um chimarrão.
Esse doce, amargo e quente,
Que queima até minha mente.
Me leva a um sonho profundo,
E durante alguns segundos,
Lanço os olhos pro infinito...
Lá longe, vai o piazito,
Se aventurar pelo mundo.
Ferrado até os dentes,
Pronto para uma caçada
Por campinas e picadas,
Parecendo um pioneiro.
Com seu bodoque certeiro,
Derrubava o que avistava.
E a seu cão desafiava,
Quem pegava a caça primeiro.
Pra melar camoatim,
Sempre subia num galho.
Porém, antes abria um atalho,
Que o levasse até a estrada.
Pra fugir em disparada,
Se algo lhe desse errado,
Mas pra piazito acostumado,
Sempre é um sucesso as meladas.
E assim corria o dia,
Tudo era uma façanha.
Pra piazito de campanha,
Aquilo é que era vida:
Laçar lebre na corrida,
Na moita espetar periá,
Pomba rola e sabiá,
Eram suas caças preferidas.
E chegava o fim da tarde,
O sol se pondo no horizonte,
Refletindo em uma fonte,
Os seus raios colorados;
O piá e o cão apressados,
Se banhavam com alegria.
E tinham que ainda de dia,
Voltar pro seu rancho amado...
E quando chegava em casa,
Beijava a testa dos pais,
“-Por onde esteve rapaz?”
Falava o pai com censura:
“-Não vê que é noite escura?”
E o piazito se desculpava,
Com orgulho mostrava,
A caça em volta da cintura.
Depois de comer um pouco,
Ele ia repousar...
Eis então que ao acordar,
Eu me vejo aqui sentado.
Me olho admirado
Como alguém que renasceu,
Pois o piazito era eu...
Na minha Caça ao Passado.