UMA CARA
Oi, minha cara cidade
Tem uma 'cara" que não me tens
Tens uma cara de que me queres
Ou sou eu quem mais a quer?
Como uma menina moça te vejo
Assim, num lance, num relampejo
E quando a olho de soslaio
Sou um pobre lacaio
Pois, não sei quando chego
E nem sei quando eu saio.
A saudade me consome, devora
Mas, me põe diante de ti
Crescestes, é verdade e é hora
E mal guardastes o meu pequi
Ai quem me dera poder estar em ti
Como estais dentro de mim
Acordar em tuas manhãs
Almoçar em teu sol
Entardecer em tua sombra
E anoitecer em tua lua
Encontrar e conversar com tua gente
Pessoas tipo Lemão, Nariz, Dezo, Dejaime,
Anjo do Barrocão, Dió, Sulina, Miliano,
Coioia, Ulisses, Yeyé, Uma-uma, Justina...
E tantas outras que já se foram
Chamadas ao balcão da eternidade.
Aonde andam então Leocádia, Fulô,
Bernardina, Gregório ... Silvano, Zim, Simira
E tantos e tantos que eu nem sei
Se esqueço ou se compadeço
Com suas dores ,dramas e danações.
Ó minha cara cidade
Eu nem quero me despedir de ti
Eu quero mesmo é estar aí
Provando talvez, teu último buriti
Afogando em tuas correntezas
As minhas mágoas e incertezas
Que a vida bem me trouxe
Como que num ar de agrado
Pensando estar eu bem sarado
Andando pelas ruas com um alforje de saudades.
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Salvador-BA, num 12-02-2004 de muitas saudades de Correntina.