Chuva da tarde
Belém, que se cerca de caudaloso rio
Turva linha que delimita sonhos
Expõe paixões
Bela e morena, que chora a chuva sagrada
Das tardes e calçadas molhadas
Calor e flora que aflora
E salta os olhos e os rostos
Compõe em si um mosaico
De Suores, desejos, cheiros e sabores.
E acolhe como ninguém
Filhos fecundos e de outros mundos
Que aportam tua orla
E abraçados como se só um
Nunca voltam às origens
Percebem aqui valores
Provam teu puro açaí
E sucumbem aos teus frutos
Cupuaçu, bacuri, tucumã e araçá
Tacacá, jambu que adormece os lábios
Ver-o-peso da tua saudade
De um dia voltares
E ver o mar de fé
Do círio de Nazaré
Mãe de Deus
Que renova em nós a vida
Natal para ti em outubro
E ouves ao fundo
O curimbó
Verequete
Pinduca
E os velhos sinos
Das velhas igrejas
Que um certo Landi, italiano
Em ti construiu e ornou
Majestosa e tardo barroca ficastes
Mais bela ainda
Sonolenta e imponente
Eterna Belém
Meu eterno admirar.