O CERRADO

correntona- ago1977

(i)

Vislumbra-me esta beleza intacta do Cerrado
pois nela vejo quão generoso foi 
seu 
Criador!

É aqui que os sonhos abrem suas asas

e voam livres
É aqui onde o vento embala o canto dos pássaros

e a natureza é como uma pura flor 
É aqui que as aves e animais vivem

sem fronteiras
e deixam rastros cronológicos

dos mistérios da vida!


Cerrado!!!

planalto brasileiro insondável
admirável imensidão, que se perde de vista.


Fauna, flora e muita paz!
numa aparência solitária, entretanto,

tão cheia de vida !

Cerrado...
Olhos d´água pura, cristalina

brotam do fundo da terra!

É aqui onde os buritis se agrupam

em cadeias isoladas
Como se de canto em canto plantados, pelo Criador !

E’ aqui que as nuvens pegam 

carona no vento
E corre por todo extremo desta vastidão...
- sem se quer um sinal da mão humana !

Apenas os animais

encantam os raros visitantes que passam...
O canto da siriema
O canto da zabelê...
O uivo do lobo guará!
O urro da onça pintada
a misturar-se ao canto dos pássaros

e a sinfonia do vento !

Vertentes rubras no céu

anunciam o anoitecer
o fim do dia quente
O inicio da noite fria
O céu avermelhado de luz!



Tudo é quietude na paz intocada

da natureza virgem
o sol parece ter mais luz

e a noite mais estrelas
o céu abobadado  de  pontos prateados
a encantar os olhos de quem mira o céu
numa noite no Cerradol.

Estranhas luzes na mata tremulam,

piscam…
- são candeeiros iluminando as trilhas ?
- Não, não!
São olhos selvagens

e vaga-lumes que vagam !
espreitam das matas

os raros visitantes que passam!

Cerrado!
Onde até as folhas secas têm suavidade, ao caírem no chão.



 (ii)

De repente o sol rompe a escuridão

e transformam o cenário
o Cerrado não mais se harmoniza em cantos,

cores, mistérios...
Redemoinhos eleva-se no horizonte:

gritos, alaridos, cantos desesperados
assustado

vejo e sinto

No calor do vento que sopra

as  labaredas de fogo

ao longe

Veem quebrando a dormência

a semente… as chuv depois

e um ciclo novo brota do chão!

E a vida no cerrado se refaz.

Mas o homem descobriu o Cerrado

e sua riqueza insondável...
Animais são abatidos

por armas de miras eletrônicas
enquanto máquinas computadorizadas
desmatam tudo que pela frente de vê.

Plantações imensas surgem

da noite ao dia…
Devastaçao...
O homem arrancou toda poesia
Ribeirões... veredas...
flora e fauna

entram na rota da extinção
enquanto assistimos incógnitos
a transformação do cerrado em grãos!

Foi-se o tempo das tropas e boiadas
dos paus-de-arara

e da inocência felina
correndo livres em meio as campinas !

O Cerrado não se refaz 

nunca mais!.

Cerrado... Cerrado!!!
Não são os mesmos olhos

que antes só te viam
testificando a visão indescritível
Vista dos rudes bancos

do velho pau-de-arara!

- A mão do homem transformou o cenário...
Não vejo mais os pequizeiros

araticuns, bacuparis
araçás e pitombas...

mangabas e araticuns!

Foi-se todo cenário...

toda pureza...
Foi-se as palmeiras e buritis

murici, mama-cadelas

babacu e jetiva…

 

saudade que dá

saudade que doi

ve o cerrado virando carvão! o cerradão !

O caboclo brejeiro sabe,

acabou-se a paz
terras invadidas
vidas ceifadas 
terras tomadas por grileiros
e a dor de nada mais ser como antes fora!


Restam as lembramças...

memórias!
 fotos coloridas nas enciclopédias....
Emas, veados, onças pintadas,

raposas, lobo-guará !

nunca mais  

a visão das árvores retorcidas
por vezes tão seca

e tão vivas, ungidas à luz do sol !

Foi-se o belo cenário
sonhos que nos seguiam por toda estrada r
rumo à vida no estado de Goiás.

Cerrado ! veredas virgens...
veredas tristes ! veredas nuas…

plantacoes… plantações…

- e o Cerrado se tranformando

em peças de museu !
livros numa estante esquecida.


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DEDICADA Ao Prof. Altair Sales Barbosa
correntinense, Professor da Universidade Federal de Goiás, antropólogo
Sciólogo, de conceito mundial, e a maior autoridade, em  conhecimentos, do Cerrado Brasileiro.           
   Correntina - BA jun/ 2001