O MENINO E O RIO
Era manhã de agosto,
raios de um sol escaldante
banhavam-se no meio das águas,
refletindo algo de misterioso
que pairava sobre os ares daquele rio.
Ouviam-se cantos de gaivotas
vindos de uma época distante,
de algum momento do passado,
vozes de lavadeiras, cantos de sereias,
cochichos de senhoras falando da vida alheia.
Barranqueiros com suas histórias mirabolantes,
beirando ao exagero, bem próximas da mentira.
Com um apito mágico
o vapor surgia na curva das águas,
despertava a curiosidade de moradores
que cruzavam os quatro cantos da cidade
para dar boas vindas ao navegante.
Ali, numa cabana próxima ao rio,
funcionava uma escola.
A professora, que mal sabia ler para si mesma,
ensinava a arte do ofício para filhos de pescadores.
Matemática e português, quase nada!
O que dominava o ambiente eram as lendas do caboclo d’água,
do saci perere, do romãozinho, da mãe d’água
e tantas outras que naufragaram nas águas do
esquecimento.
Do sertão ao mar, do passado ao presente,
o Rio e Eu fizemos uma trajetória diferente.
Ele me viu nascer e crescer junto às suas águas,
e Eu, ao contrário, o vi grande,
hoje quase morrendo, chorando suas mágoas.
Se gente fosse esse Rio,
menino nascesse, assim como Eu,
vida própria ele teria!
Mas rio não tem vida própria,
não igual a minha...
Por isso não deve envelhecer.
O que será que aconteceu, meu amigo?
Daquela manhã de agosto até hoje
muitas primaveras eu vivi,
Alcei voos ao longo do caminho da vida,
visitei mundos distantes,
deixei me levar por ventos e tempestades,
busquei guarida nas asas da juventude,
arranquei sussurros de louras e mulatas,
plantei árvores e comi dos seus frutos,
carpi meu destino e bebi do cálice do tempo.
Hoje volto...
Querendo pisar nas areias da sua praia,
molhar-me nas águas do seu leito,
ouvir sua gente e suas lendas,
banhar-me de recordações dos tempos de menino,
e o que encontro...
Quase que um leito de morte.
Rio São Francisco
que nasce na Serra da Canastra,
que vai de Minas para o mar,
que banha de esperança a alma de muita gente.
Rio que gera vida,
vida que gera morte.
Rio que corre por vales desertos,
que torna certo o incerto
e que alimenta as terras do sertão.
Rio São Francisco
O tempo para ti passou ao contrário:
antes, Eu menino, hoje, homem grande;
antes, Tu era grande, hoje parece menino.
Era manhã de agosto,
raios de um sol escaldante
banhavam-se no meio das águas,
refletindo algo de misterioso
que pairava sobre os ares daquele rio.
Ouviam-se cantos de gaivotas
vindos de uma época distante,
de algum momento do passado,
vozes de lavadeiras, cantos de sereias,
cochichos de senhoras falando da vida alheia.
Barranqueiros com suas histórias mirabolantes,
beirando ao exagero, bem próximas da mentira.
Com um apito mágico
o vapor surgia na curva das águas,
despertava a curiosidade de moradores
que cruzavam os quatro cantos da cidade
para dar boas vindas ao navegante.
Ali, numa cabana próxima ao rio,
funcionava uma escola.
A professora, que mal sabia ler para si mesma,
ensinava a arte do ofício para filhos de pescadores.
Matemática e português, quase nada!
O que dominava o ambiente eram as lendas do caboclo d’água,
do saci perere, do romãozinho, da mãe d’água
e tantas outras que naufragaram nas águas do
esquecimento.
Do sertão ao mar, do passado ao presente,
o Rio e Eu fizemos uma trajetória diferente.
Ele me viu nascer e crescer junto às suas águas,
e Eu, ao contrário, o vi grande,
hoje quase morrendo, chorando suas mágoas.
Se gente fosse esse Rio,
menino nascesse, assim como Eu,
vida própria ele teria!
Mas rio não tem vida própria,
não igual a minha...
Por isso não deve envelhecer.
O que será que aconteceu, meu amigo?
Daquela manhã de agosto até hoje
muitas primaveras eu vivi,
Alcei voos ao longo do caminho da vida,
visitei mundos distantes,
deixei me levar por ventos e tempestades,
busquei guarida nas asas da juventude,
arranquei sussurros de louras e mulatas,
plantei árvores e comi dos seus frutos,
carpi meu destino e bebi do cálice do tempo.
Hoje volto...
Querendo pisar nas areias da sua praia,
molhar-me nas águas do seu leito,
ouvir sua gente e suas lendas,
banhar-me de recordações dos tempos de menino,
e o que encontro...
Quase que um leito de morte.
Rio São Francisco
que nasce na Serra da Canastra,
que vai de Minas para o mar,
que banha de esperança a alma de muita gente.
Rio que gera vida,
vida que gera morte.
Rio que corre por vales desertos,
que torna certo o incerto
e que alimenta as terras do sertão.
Rio São Francisco
O tempo para ti passou ao contrário:
antes, Eu menino, hoje, homem grande;
antes, Tu era grande, hoje parece menino.