Apresentação d'um matuto
Seus dotô eu me apresento
meu nome é Tiago: bom dia!
Descurpe se neste momento
ja num se notar mais o dia
Sou daqui mesmo do nordeste
mas num sou cabrão da peste
pra mode fazer puisia
Sou um desses caba mei besta
que num tem bem o que fazer
Passa o dia todin de seresta
só sabe drumir, estudar e comer
e pra mode num ficar pior
vai inventar de compor
pra mode puder se entreter
Tenho uns dizenove ano
sou fei que só a murrinha
tenho duas urea de abano
e uma lapa de cabecinha
e só não sou o satanas
pruquê minha mãe se apraz
me achar um pedacim de humano
Mas num se ingane vocês não
eu sou fei mas sou manso
Sou frouxo que só um cão
parecei mais o fi do ganso
mas tenho em mim nessa sina
toda essa lírica nordestina
que é pra num ficar de banzo
É, meus sinhô, a puisia corta
desde os uvido inté a alma
pruquê no sertão de terra morta
ela é quem vem e nos acalma
pra mode continuar na labuta
e seguir, da vida, a luta
pra mode sossegar e ter calma
E mesmo quando é meia assim
um pouco ruim e sem graça
o pueta vai e termina no fim
pruquê ela é que nem cachaça
sobe pra riba de nossa cabeça
e num tem nada que impeça
fazer o verso sair bem de finim
Eita, macho vei priguiço
mal começou a escrever
que ja acha muito esforço
só uma pisa pra aprender
que neste sertão quente
o puisia que vem da gente
é pro vaso num vim fender
Mas home eu me vou indo
que tem que varrer a casa
e minha tia ja vem vindo
mode saber o que se passa
e se eu num terminar
a madeira vai cantar
pros couro sair fumaça