Ao Longo do Litoral
Os temas fogem e os versos escondem-se
Não há palavras a redigir nem risos a rir
Nesta cidade pequena na curva do Brasil
Sinceramente onde o mar não se curva
Caminho despreocupadamente pelas ruas
Mãos nos bolsos, numa atitude de turista
De sobre a ponte que cruza o pequeno rio
Espreito peixes que nunca aparecem
As pessoas me dizem: "olá"
Retribuo com um sorriso jovial
Um sorrio de todo o poeta numa esquina
E todos dizem: que rapaz!
Estabeleço hipóteses sobre a origem da cidade
A reflexão me leva aos primeiros desbravadores
Aos pais históricos destes alegres moradores
E concluo: certamente eram pescadores
Um tanto distante me situo
Em cada semblante indago relações
E neste emaranhado de pensamentos
Busco no olhar os altos coqueiros
Além do céu limpído, o sol poente, a tarde bela
Que da praia junto das jangadas vislumbro
Mais do que qualquer momento poético
Ao longe a figura solitária do farol a colorir
Mar calmo de ondas serenas e esparsas
Sonhas como um menino ao longo do litoral
Velas brancas que somem no horizonte distante
Demarcando pontos que vão livres na imensidão
Terra adentro, algodão em plumas, verde vale
Geras sorrisos nas faces enrugadas pelo sol escaldante
Caminhos e encruzilhadas do grande agreste
És uma esperança que o homem suspira...
Touros, 1982