Semente e Palavra
Tem vez que a lua desponta
e me encontra
neste exílio fiel,
botando canga no medo,
lavrando com os dedos
palavra e papel.
Reviro a pele dos versos
dispersos
no campo branco das folhas
e planto meu universo
imerso
por onde a lua me olha.
Meu pasto mal dá pra o gasto
tão vasto
nesta colheita de sonhos
tamanhos
e levo as tralhas por trilhas
sem rastro
onde a palavra germina meus ganhos.
Todo caderno é um deserto
aberto
pra mão agrária que canta
e que lavra.
A minha sina sulina
eu sustento
jogando ao vento
semente e palavra.
Neste aramado das linhas
vizinhas
de taipas retas e secas
derramo a água das mágoas
daninhas
e planto rimas nas cercas.