A PROCISSÃO DO MST
A procissão do MST passou pela minha rua
Me deu uma vontade sem tamanho de abraçar
aquele povo suado
pisado
machucado
desdentado
e misturar suor e lágrimas
meus pensamentos
minhas inúteis ideias
e dançar o forró
com aqueles homens de braços fortes
de lidar com o arado
de deixar que me apertassem
até que eu morresse
e do poder
se vingasem
eu me vi barriguda
uma fila de filhos
sob o sol do sertão
em cima do caminhão de som
um velho cantor
abraçado a uma sanfona idosa
cantava
“O sonho não acabou
No tremular da bandeira”
E depois
“VocÊ gosta de mim, ô neguinha
Eu tabém de você, ô neguinha
Vou pedir a seu pai, ô neguinha
Para casar com você”
Vi o sorriso de meu pai
E me vi mocinha
Rodopiando no asfalto
Num rodado e florido
Vestido de chita