MENINO PANTANEIRO
Tratei dos porcos
E fui destratado!
Ordenhei a mimosa
Mas seu leite
Fora-me negado.
Molhei os pés no orvalho
Que lá do céu caía
E meu rosto de lágrimas,
De um choro desconsolado
Mas que ninguém ouvia.
Tinha dever de homem...
O meu corpo de menino.
Infância... Só conheci de nome!
Meu pai era lavrador...
E o seu oficio, o meu destino.
Mas não era só tristeza...
A vida lá no sertão.
De manhã os bem-te-vis
Desfilavam majestosos
No lombo do alazão.
As flores desabrochavam
Como um sorriso de princesa
E toda minha angustia
De repente se entregava
Aos encantos da natureza.
Porém do resto do tempo,
Não gosto nem de lembrar!
Meu corpo seguia de arrasto
Entre tocos daqueles pastos
Que eu tinha que destocar.
No pino do dia...
Um gole de água quente.
A sombra que sobrava,
Eu ainda disputava
Com o bote das serpentes!
E quando noite chegava
Trazia os espectros sombrios,
Meus fantasmas, meus amigos!
Que pelas frestas do meu abrigo
Compartilhavam do meu frio.
Hoje estou crescido...
Mas preso em minhas lembranças!
Em meu desespero,
Era eu aquela criança...
O menino Pantaneiro.